sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Teatro e a Previsão

"Cause there`s a side to you that i never knew, never knew"

Ontem conheci um grande amigo de um grande amigo meu. Pareceu-me simpático, boa pessoa, um bom amigo. Sei como se chama, a cor dos olhos, em que faculdade anda, onde mora, quanto calça, quanto mede e, mesmo que algumas destas coisas possam ser estimadas sem serem dadas a conhecer, as pessoas tendem a dizer : "Conheci alguém. ". Devo admitir que isto me faz uma certa confusão, este verbo. Efectivamente nós conhecemos a pessoa, somos apresentados, ficamos a saber algo sobre ela, mas conhecemo-la? Sabemos o que pensa? Porque luta? Pelo que sonha? O que a faz chorar? O que lhe põe um sorriso no rosto? Devia existir outro verbo a aplicar nestes casos. Por mais irónico que possa ser, até classificamos estas pessoas como "conhecidos" quando, provavelmente, não sabemos com o que podemos contar. No entanto, também sucede o oposto. Existem pessoas com quem se calhar não trocámos mais que um olhar e que sentimos que conhecemos. Podem ser pessoas transparentes, mais verdadeiras, mas não necessariamente. Não é a pureza que nos faz sabermos quem são. ´
Se calhar é o olhar. Para mim, olhar nos olhos alguém pode dizer-nos muito sobre o outro. E não são precisos rótulos, máscaras, fingimentos. Não, não tenho raio-x incorporado nem qualquer poder de adivinhação (mesmo que me atirem com búzios, cartas, ou chávenas de café). Simplesmente acho que os olhos são como impressões digitais, verdadeiros, representativos. Claro que, mesmo em algumas pessoas, nem os olhos nos podem dizer o que pensam e, por muito que as tentemos perceber, não vamos conseguir. Se calhar sou assim. De toda a gente que conheço, só duas pessoas me conseguem olhar nos olhos e saber quem sou, mesmo que eu não queira que se saiba. O que penso. Com que sonho. O que me faz chorar. O que me leva a gritar. Se calhar sou pouco expressivo, olhos tão banais, castanhos como tantos outros. Ou então, se calhar, somos nós que não sabemos ver. Se calhar somos nós que não estamos disponíveis, inalcançaveis, não os outros.
Não achei o rapaz que conheci ontem transparente. Conhecer? Não, não o conheci. Se calhar não é pelo reconhecimento visual que conhecemos alguém. Porque há quem esteja uma vida inteira ao lado de alguém sem conhecer com quem vive. Mas então, quando sabemos se conhecemos alguém? Não sabemos acho. Nunca conhecemos verdadeiramente alguém. Não vivemos em condições extremas. Não vivemos numa utopia. E o meio? Não nos permite avaliar. " O Ser humano é capaz de executar os actos mais bárbaros quando está em causa a sua sobrevivência ". Racionalidade a mais? Talvez. Mas, se assim não for, conheceríamos meio mundo e, nessa altura, a desilusão seria maior, insuportável. E o que seria de nós sem segredo? Sem risco? Sem sabermos o que nos espera? Fantoches, Marionetas, num espectáculo certamente dramático e eu?  Prefiro comédia, sempre escapa à rotina.

"Olá, prazer em conhecer este teu lado. Espero que um dia venha a conhecer o outro."

Prever o Futuro? Não, obrigado. Não gosto de fantoches.

2 comentários:

  1. Achei graça a este post, tens uma forma de pensar interessante e acho que este monte de perguntas retóricas que fazes, são num fundo um mecanismo de defesa.

    Vou-te adicionar no msn =)
    abr

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  2. Como já te tinha dito Miguel, provavelmente tens razão. Talvez seja uma forma de o meu lado racional me proteger. Talvez seja assim que ele aprisiona o meu lado mais emocional. E, às vezes, quando ele se consegue libertar, põe em causa esse mecanismo de defesa e pergunta-se se o mecanismo é ou não eficaz xD

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