quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Brisa Musical VIII / A criança do lugar escuro

Ergui-me. Conheci o sabor das lágrimas, refugiado num lugar escuro. Precisei de estar sozinho. Talvez para reordenar pensamentos, talvez para saber aceitar o que não posso mudar.
 Como tinha pedido, deram-me a mão. Tive, a meu lado, quem me ajudasse a caminhar para a batalha novamente. Achava que, provavelmente, ia lá ficar junto a uma pedra escura, durante muito, muito tempo. Felizmente não.
Às vezes pergunto-me se o Mundo não é como um rapaz amuado que, por capricho, muitas das vezes nos faz sofrer. E a seguir, quando o amuo passa, o rapaz decide dar-nos um presente, um sorriso contagiante que nos faz ver a vida com outros olhos. Se calhar devíamos estar mais gratos por isso. Típico do ser humano, é raro agradecermos. Há quem diga que é por não termos nada para agradecer, mas será verdade? Estamos vivos. Termos quem amamos ao nosso lado. Podermos ver, ouvir, cheirar, tocar, provar. Existir luar. Existir mar. Não será suficiente? Sim, sei a que sabem as lágrimas. Sei a que sabe estarmos num lugar escuro. Sei a que sabe termos surpresas pouco agradáveis. Sei a que sabe a dor. Mas, acima de tudo, sei a que sabe não estar sozinho. Sei a que sabe darem-nos a mão, sei a que sabe ter alguém que nos apoie. Sei a que sabe ter alguém que nos dê força, que nos roube um sorriso. Tive quem me desiludisse. Quem nem sequer percebesse o quanto sofri. Se calhar tinha expectativas demasiado altas, mas tive também quem mais uma vez estivesse lá. E não será isto suficiente para agradecer? Sei que é só uma palavra, sei que é pouco para alguns, mas para mim vale muito. Obrigado. Obrigado por estarem lá, por me darem a mão, por não me deixarem desidratado, por me guiarem a casa. E aos que não me deram a mão? Aí, agradeço ao rapaz amuado. Agradeço por me ter mostrado uma vez mais que vou sofrer muitas vezes. Agradeço por me ter mostrado que por cada um desses que me esqueceu existe alguém que não se esquece de me ajudar a levantar. Sei que vou cair, que vou esfolar os joelhos muitas vezes. Sei que vou chorar quando cair e quando me tratarem das feridas. Sei agora que vou sofrer muitas vezes, mas sei que vou ter lá quem me sopre a ferida e diga que tudo vai ficar bem...
Talvez me falte mentalidade, sim, talvez ainda não tenha percebido que não vivo num conto de fadas daí custar-me tanto de cada vez que tropeço. Talvez não queira crescer. Talvez queira viver assim para sempre...
Mas o sempre não existe. Nada dura para sempre. Espero pelo dia e, mesmo que não queira, um dia só permanecerá a memória de quando era feliz, de quando achava que o arco-íris terminava num pote de ouro...



P.S.: A música pouco ou nada tem a ver com o tema mas descobri-a ontem e não consigo parar de a ouvir. Mas, quem sabe? Talvez um dia faça sentido outra vez.

"Regrets and mistakes, they're memories made
Who would have known how bitter-sweet
This would taste?"

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