terça-feira, 13 de setembro de 2011

Colocado

Nunca pensei que uma palavra tão simples pudesse fazer alguém tão feliz. Um sorriso. Um salto. Um  parabéns. Estás na Faculdade. Um sorriso rasgado. Um salto ainda mais alto. Um parabéns dito em voz bem alta. Consegui. Consegui o que queria. Entrei no que queria e, um dia, farei o que gosto. Uma bênção. Dias antes tinha a convicta certeza de que iria entrar. O meu nome estaria lá, associado a uma pequena palavra. Colocado. Sim, tinha a certeza e nunca duvidei. O grito que iria dar, os telefonemas que ia fazer a seguir, tudo tão bem ensaiado, esperando pela grande estreia. 2 e 32 da tarde. Abri o site, procurei o meu nome. Não Colocado. Não haverá sorriso, não haverá salto. Parabéns? Fora de questão. E os telefonemas? Feitos, mas num tom diferente. Melancolia. Tristeza. Alegria? Fica para todos os outros. Para os que leram colocado naquele momento. E aos sorrisos brindemos. E à alegria, e ao prazer de fazermos o que gostamos numa vida tão grande. Não foram dois valores. Não foram três nem quatro. Talvez fosse mais fácil brindar a isso. "Não entrei, por dois valores." Mas não. Porque a ironia tem que estar presente, mandar-me abaixo uma vez mais negando-me o que julgava tão certo... Mas quem poderia ter adivinhado? Quem poderia saber a que saberia o desespero, o fracasso? Minto quando digo que é só um ano, que pouco me importa. Que serei mais forte. Dói-me. Talvez mais do que julgava ser possível. Dramatismo? Não, desespero. Porque quando se ultrapassa uma barreira pensa-se que estamos lá. Sim, porque não existem barreiras a bloquearem-nos a meta. O pior são as pedras, as pedras que nos fazem cair. As pedras que nos esfolam. As pedras que nos fazem bater com os dentes no chão. As pedras que nos fazem sangrar. As pedras que nos ensinam a que sabe o sangue. Sim, porque quem poderia adivinhar a que sabe o sangue sem o beber? Quem poderia ter avisado os sonhadores que, um dia, os sonhos caem, perdem a gravidade. Se calhar, deviam avisá-los do tamanho da queda. Do que iriam sofrer, deviam avisá-los que as pedras estão lá também. Esquecer? Não. Será uma lição, mais uma. Sei disso tão bem. Não fiques triste dizem... Não consigo. Estou a sofrer. Em silêncio talvez. Para os outros digo que levantei a cabeça. É o que se espera que eu faça. Tenho forças para o aguentar e vou combater, lutar, porque vou vencer. Odeio que o pensem. Eu sofro. Não sou de ferro e, se soubessem ver com o coração conheceriam a que sabem as lágrimas. Cloreto de Sódio. Sabem-me a mais que isso. A dor. Sim, porque afinal a dor também pode ser saboreada. Sim, porque saborear algo não é apenas positivo. Querem que me erga? Não consigo. Deixem-me de joelhos. Não consigo levantar-me ainda...
Colocado...
Sim, a que sabe isto? A que sabe tão simples palavra?
Não sei. Talvez para o ano saiba. Sim, porque este ano não vai ser a palavra no local certo. Porque as palavras têm lugares próprios onde sabem melhor.
Não entrei na faculdade no curso que queria. Não sei a que sabe a palavra colocado. Não sei a que sabem os sorrisos que podiam ser meus, os saltos, a alegria, os telefonemas. Uma  décima. Parece tão pequeno o número. Tinha razão em não gostar de números. Mais uma vez são eles as pedras. Arrependimentos, erros, quem poderia saber? O doce, o amargo? Esqueçam. Não agora. Deixem-me chorar. Terei tempo para levantar a cabeça, para encher as feridas de álcool, para desafiar a gravidade uma vez mais. Nessa altura vou estender-vos a mão para me levantarem.
 Agora , por favor, deixem-me conhecer o sabor das lágrimas.

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