Estou a ver a rua lá em baixo. Consigo ver os pinheiros do jardim. Vou até à sala e vejo o mar lá ao fundo. Olho para cima e vejo o céu, as nuvens. Mas nem sempre vejo o que quero. Sorrio. Choro. Uma tempestade? Um terramoto? Não sei e é isso que me atormenta. Não consigo perceber nada. Já não sei se sim. Se calhar estou dentro de areias movediças e não reparei. Sim, talvez seja isso. Uma dádiva, achei. Claro que é, uma das melhores noticias da minha vida, não por uma razão. Por duas. Não penso no que vou deixar para trás. Não penso no que vou perder. Espero ganhar. Espero conseguir. Espero triunfar. Mas, afinal, não é isso que esperamos todos? Todos... Parece-me tanta gente... Mas não sei quem são. Talvez mais fortes, talvez superiores, e mesmo inferiores, que importa? Queria um dado agora. Talvez se o lançasse conseguisse os números que quero. Mas, e se não conseguir? Se estiver a caminhar sobre gelo fino? Se estiver prestes a cair e nem consigo perceber?
Invejo a água. É clara. Incolor. Talvez fosse mais fácil assim. Não sei que cor tenho neste momento, nem isso sei. Estou a enganar-me a mim próprio. Sei bem que cor tenho. Sei que cor quero ver mas se calhar falta-me o lápis de cor. E se eu não o tiver? Seria capaz de abdicar de ver a Lua para conseguir pintar. Seria tão bom se assim fosse. Não existiriam próximas. Nem o amanhã importava, porque o presente era nosso. E o todos? Não, não teriam tal lápis! Mas isto... Isto é o que sonho, o que, se calhar, se demonstra impossível. Não sei. Não consigo ver. Não estou cego para os outros. Mas os outros não vêm, nem percebem. Eu próprio não percebia se me contassem. Aliás, não percebi outrora. Mas agora? Já nada me faz sentido, já não consigo dizer que não, já não consigo controlar-me. Perdi o controlo e devia estar assustado. Não sei onde estou e devia estar assustado. Consigo pintar? Se calhar não. Devia estar assustado...
Não consigo, perdi o controlo e sinto-me guiado. E, cinto de segurança? Não me parece que o tenha posto. E, mesmo que o ponha, será que vai doer menos? Claro que não. A dor é a dor. Está lá e não é tão manipulável. Tenho medo. Talvez de pôr o pé e cair para dentro do lago. Água fria, como agulhas. Sei nadar, provavelmente vou sobreviver. Mas e as cicatrizes? Será que desaparecem?
Não sei se estou a viver um sonho. Será que vou acordar? Espero que não. Sim, é cobardia, mas eu prefiro assim. Ou então, se me quiseres acordar, fá-lo depois. Assim posso dizer que tive um sonho.
"Então e sonhaste com quê?"
"Não sonhei, tive um quase sonho."´
Não quero um quase sonho, prefiro um sonho. E facas? Estacas? Agulhas? Um revólver? Prefiro veneno.
O frasco? Não o tenho, deixei de o ter.
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