quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Uma infância numa estante

Não foi hoje, nem ontem, nem antes de ontem. É claro que nem eu poderia ter esperado tanto tempo. Vi o último filme do Harry Potter. Uma saga que me acompanhou, ao longo da minha infância. Sim, porque sinto que eu, embora vivendo num mundo de Muggles, num mundo diferente, também cresci com eles. Cresci nestes 7 anos, tal como eles. Certo é que não passei pelas mesmas provações mas também eu superei adversidades, obstáculos que me fizeram ver a vida de outra forma. Amigos que me apoiaram, pessoas que me traíram, perdas duras que me fizeram sofrer. Posso não pertencer a Gryffindor, posso não enfrentar Dementors e Basiliscos, posso não agitar a varinha e desarmar quem me enfrenta. Sim, não faço isso tudo, não sou um feiticeiro. Nunca estudei em Hogwarts, nunca recebi um Gritador, nunca joguei Xadrez dos Feiticeiros e nunca voei numa vassoura ou joguei Quidditch. Sim, nunca fiz nada disto mas estive lá. Acompanhei-os em todas as viagens, como fiz com o Frodo ou o Eragon, sim, estive lá. E, no final, quando tudo caminhava a passos largos para o fim de uma epopeia mais que impossível, sim, no final, estive lá. Sou sensível, muitas das vezes demais, mas não há muitos filmes que consigam salgar-me a cara. Nem eu sei bem porque chorei. Nem deve fazer sentido para os outros. Aliás, nem para mim fez ao princípio, depois percebi. Sim, chorei. Chorei porque era o fim. Chorei porque os tinha acompanhado até ali. Chorei porque era como se também eu ali estivesse. Chorei por eles, por mim, pela minha infância, pelo cheiro de cada página que li, pelas capas, pelas letras, pela aprendizagem, pelos dias na praia passados a devorar os livros, pela compra de cada um dos livros. Sim, chorei, agora já não choro. Ainda os vejo lá no entanto, estão lá todos, em cima da estante. O Harry, a Hermione, o Ron, a Ginny, o Snape, o Voldemort, a Bellatrix e a Narcissa. Sim, estão todos lá. Ao lado do Frodo e do Sam, ao lado do Eragon e da Arya. Sim, estão lá. Agora não choro. E um dia ? Sim, e no dia em que os voltar a encontrar, no dia em que saltarem de cada uma das páginas enquanto estiver a dormir, enquanto estiver na praia novamente, ou simplesmente nas nuvens contemplando? Sim, e aí? Não tenho dúvidas, voltarei a torcer por eles, a apoiá-los, a lutar ao lado deles, a partilhar das suas dores e alegrias. Voltarei a chorar.
Adeus? Não de todo.
Adeus? Claro que não.
Até um dia. Sim, porque um dia, voltaremos a encontrar-nos, um até já...

2 comentários:

  1. Um dia, quando voltares a encontrá-los, obriga-te a estar à altura do que és agora. Não deixes que o tempo dê cabo da utopia ou da ingenuidade, mesmo que não faças uso delas.

    Normalmente, à medida que vamos crescendo, temos tendência a esquecer os sonhos. O que, porém, fazemos tudo para repudiar, são as lágrimas.

    Um dia, quando voltares a encontrá-los, talvez seja como se olhasses para um espelho. Um espelho real!... Pode ser que, então, sejas capaz de descobrir que o teu sorriso ainda lá permanece.

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  2. Normalmente quando não damos uso a algo, acabamos por ignora-lo e, acabamos mais tarde ou mais cedo por o perder. Vou tentar guardá-las contra o tempo contudo. E, no dia em que os encontrar, se me estiver olhar ao espelho será bom sinal mas duvido que o meu sorriso ainda lá esteja. Duvido que não o tenha perdido. Provavelmente ficará lá, para nunca ser solto. Nem quando os voltar a encontrar...

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