Desilusão

Sinceramente considero-me um pouco fútil. Sou um bocado vaidoso e às vezes ligo às aparências. Seria hipócrita se dissesse que não ligo ao aspecto físico dos outros. É óbvio que tal nunca foi impedimento nem motivo para falar ou não falar a alguém que, por exemplo, não tenha muito sentido crítico relativamente ao que veste, mas reparo nessas coisas não criticando claro ninguém, porque não tenho nada a ver com isso (considero isto uma monstruosidade e apenas me considero fútil essencialmente no que diz respeito à minha vaidade, ao que visto, etc.). Daí custar-me um pouco criticar alguém que seja fútil porque eu também o sou um pouco. No entanto, apetece-me comentar alguém que ontem vi novamente, alguém a quem outrora, de forma muito ingénua, chamei de amigo.
Andei com ele desde o 5º até ao 9º ano. Cresci, brinquei, cheguei até a desabafar com ele. Talvez pelo facto de ser muito parecido comigo em termos psicológicos, como se calhar por também ele ser homossexual. Nunca tivemos nada, apesar de em algumas ocasiões poder ter acontecido. Custou-me despedir-me dele no 9º ano, é verdade. Não sabia de facto para que escola iria e, apesar de nos podermos continuar a encontrar, não seria a mesma coisa. Acabaríamos por pôr a mesma escola em 1ª opção mas só ele viria a entrar. De facto, é uma escola altamente elitista. Funciona exactamente como as escolas dos U.S.. Há uma clara hierarquia onde, os ditos "populares", estabelecem quem tem ou não valor naquela " sociedade" (como se tal fosse possível medir , quer através do que veste ou da conta bancária, mas enfim...). Eu aliás gostava da escola porque de facto tem óptimas condições mas, apesar de haver pessoas ditas "normais" na escola descobri, para minha grande tristeza, que o M. não é uma delas.

Vi-o ao longe mas reconheci-o imediatamente. Caminhava na minha direcção com mais 4 raparigas (as "populares"). Enquanto caminhava ao seu encontro sorri-lhe. Sorriu-me também de longe, um suave sorriso, mas eu esperava ainda que me viesse cumprimentar. Não o fez. Continuou ao lado delas e passou ao meu lado fingindo não me conhecer. Fiquei estático. Parei e, mais uma vez, tive uma desilusão. Lembro-me de quando comentávamos como aquelas miúdas se achavam superiores e que, coitadas, eram altamente fúteis, pensando todo o dia no que iriam vestir no dia de amanhã e o que iriam comprar a seguir. Fiquei triste, e mais uma vez pergunto-me, como é possível que as pessoas mudem tanto? Como é possível que alguém que eu conhecera tão bem, alguém genuíno, possa algum dia transformar-se nisto ?  Afinal, as pessoas mudam. Afinal, os amigos deixam de o ser. Afinal nem tudo se mantém constante. Afinal, a vida ainda me consegue deitar abaixo...