terça-feira, 6 de setembro de 2011

A rapariga dos cabelos castanhos

Devem conhecer aquela célebre frase : O mundo é pequeno. Apesar de, em termos racionais isto ser um pouco absurdo (dependendo claro do nosso conceito de mundo e do objecto de referência para a medição), até que às vezes, posso entendê-lo. Ontem, depois de ter visto o Titanic (e de ter chorado pela milionésima vez- sim, um pouco estúpido mas não o consigo evitar), recompus-me e fui dar uma volta. Não encontrei crianças a brincar na rua contrariamente ao que esperava. Nem senhoras, já com alguma idade, a passear os seus cãezinhos. Fiquei um pouco espantado, mas enfim, as crianças provavelmente preferem estar no computador (oh sweet irony ) e as senhoras, essas.... bem, se não estiverem no computador também, talvez possam ter ido de férias, sim porque não? Continuei a andar e sentada no passeio estava uma rapariga com longos cabelos castanhos caídos sobre algo que me parecia um telemóvel. Ia passar por ela quando sai de um prédio próximo uma  das minhas ex-namoradas (sim, tive e isso é algo a falar um dia) que, ao sair, reconhece-me e vem me falar. Cumprimento-a , conversa casual, como estás, entrada na faculdade, vais sair? Ao que ela me responde,  "Sim, vou dar uma volta com uma amiga minha que ali está sentada à minha espera" Começámos a andar. Então e onde vão? "Estamos a pensar ir à escola porque ela tem de ir tratar de umas coisas e depois devemos ir ao .***** (por razões de confidencialidade vou omitir o nome do sítio :P) " E tu, vais ao supermercado?" Não, ia à papelaria. "Ah, então fazes-nos companhia até à escola" Claro, sorri. Chegámos ao pé da rapariga e eu tive aquela sensação de já a ter visto antes mesmo de saber o seu nome. " Christopher, esta é a N. " .
"Olá -cumprimentou ela- não te lembras de mim já?" Hmm, a tua cara não me é estranha mas para ser sincero de momento não -disse sorrindo.
Afinal, a rapariga dos cabelos castanhos, aquela por quem eu ia passar sem sequer olhar uma segunda vez, tinha sido minha amiga de infância. Sim, era uma grande amiga, com quem eu outrora ia para o parque brincar, com quem jogava à apanhada, às escondidas, com quem devo ter visto o meu primeiro filme de terror que me deixou sem dormir quase uma semana. Ela mudou-se. Foi viver para longe, e lembro-me de me ter custado muito vê-la partir. Agora que penso nisso, de todos os meus amigos de infância apenas ainda falo com 2. Damo-nos bem e continuamos, ainda hoje, crianças grandes que só fazem parvoíces. Recordámos alguns momentos bons, rimos ao lembrar-mo nos do quão pestes éramos. "Lembras-te quando atirávamos pedras para a garagem do Sr. M. , fugindo quando ele vinha disparado atrás de nós ? " Lembro-me. Lembro-me disso tudo. No entanto, lembro-me porque tu te lembraste de mim. Sim, porque se a M. (a minha ex-namorada) não tivesse saído naquele momento.... Sim, se tu e ela não se tivessem tornado amigas por causa da irmã dela. Sim, se tu não tivesses voltado para o sitio onde outrora brincaste naquele parque comigo... Sim, porque eu passaria por ti. Iria ignorar-te e não iria lembrar-me de ti. Não até encontrar-te um dia , talvez. Sim, iria até à papelaria sozinho e, dali a cinco minutos, cinco segundos se calhar, nem me iria lembrar que vi uma rapariga sentada no passeio. E, se por acaso me lembrasse da cor dos teus cabelos não serias N., a minha amiga de infância. Sim, hoje vi uma rapariga sentada no passeio. A rapariga dos cabelos castanhos.

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